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+ | Inicialmente, Platão entusiasmou-se com a filosofia de Crátilo, um seguidor de Heráclito. No entanto, por volta dos 20 anos, encontrou o filósofo Sócrates e tornou-se seu discípulo até a morte deste. Pouco depois de 399 a.C., Platão esteve em Mégara com alguns outros discípulos de Sócrates, hospedando-se na casa de Euclides. Em 388 a.C., quando já contava quarenta anos, Platão viajou para a Magna Grécia com o intuito de conhecer mais de perto comunidades pitagóricas. Nesta ocasião, veio a conhecer Arquitas de Tarento. Ainda durante essa viagem, Dionísio I convidou Platão para ir à Siracusa, na Sicília. Platão partiu para Siracusa com a esperança de lá implantar seus ideais políticos. No entanto, acabou se desentendendo com o tirano local e retornou para Atenas. | ||
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+ | Em seu retorno, fundou a Academia. A instituição logo adquiriu prestígio e a ela acorriam inúmeros jovens em busca de instrução e até mesmo homens ilustres a fim de debater idéias. Em 367 a.C., Dionísio I morreu, e Platão retornou a Siracusa a fim de mais uma vez tentar implementar suas idéias políticas na corte de Dionísio II. No entanto, o desejo do filósofo foi novamente frustrado. Em 361 a.C. voltou pela última vez à Siracusa com o mesmo objetivo e pela terceira vez fracassa. De volta para Atenas em 360 a.C., | ||
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+ | '''Diálogos considerados de juventude ou socráticos, até cerca de 390 a.C. (antes da morte de Sócrates).''' | ||
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+ | *Lísis ou Da Amizade | ||
+ | *Cármides ou Da Sabedoria | ||
+ | *Eutífron ou Da Santidade | ||
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+ | '''Diálogos ditos de transição:''' | ||
+ | *Eutidemo ou Da Erística | ||
+ | *Hípias menos ou Da Mentira | ||
+ | *Crátilo ou Da Etimologia | ||
+ | *Hípias Maior ou Do Belo | ||
+ | *Menexeno ou Do Epitáfio | ||
+ | *Górgias ou Da Rétorica | ||
+ | *República - livro I | ||
+ | *Protágoras ou Dos sofistas | ||
+ | *Ménon ou Da Virtude | ||
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+ | '''Diálogos de maturidade (escritos provavelmente entre 387 a.C. e 368 a.C.):''' | ||
+ | *Fédon ou Da Alma | ||
+ | *Banquete ou Do Bem | ||
+ | *República - livros II a X | ||
+ | *Fedro ou Da Beleza | ||
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+ | '''Diálogos considerados de velhice:''' | ||
+ | *Parménides ou Das Formas | ||
+ | *Teeteto ou da Ciência | ||
+ | *Sofista ou Do Ser | ||
+ | *Político ou Da Realeza | ||
+ | *Filebo ou Do Prazer | ||
+ | *Timeu ou Da Natureza | ||
+ | *Crítias ou Da Atlântida | ||
+ | *Leis (inacabado) | ||
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+ | Há ainda outras obras cuja autoria é contestada: Alcibíades I e II, Epinómide ou Do Filósofo, Hiparco, Minos, Os Rivais, Téages e Clítofon. | ||
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+ | Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. | ||
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+ | A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. | ||
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+ | Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. | ||
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+ | Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna. | ||
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+ | Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. | ||
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+ | Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. | ||
+ | Libertado e conhecedor do mundo, o priosioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. | ||
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+ | Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. | ||
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+ | Extraído do livro "Convite à Filosofia" de Marilena Chaui. |
Edição atual tal como às 21h20min de 26 de setembro de 2010
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[editar] PLATÃO
[editar] Biografia
Platão nasceu em Atenas, provavelmente em 427 a.C.(no ano da 88a olimpíada, no sétimo dia do mês Thargêliốn), cerca de um ano após a morte do estadista Péricles, e morreu em 347 a.C. Seu pai, Aristão, tinha como ancestral o rei Codros e sua mãe, Perictione, era descendente de um irmão de Sólon.
Inicialmente, Platão entusiasmou-se com a filosofia de Crátilo, um seguidor de Heráclito. No entanto, por volta dos 20 anos, encontrou o filósofo Sócrates e tornou-se seu discípulo até a morte deste. Pouco depois de 399 a.C., Platão esteve em Mégara com alguns outros discípulos de Sócrates, hospedando-se na casa de Euclides. Em 388 a.C., quando já contava quarenta anos, Platão viajou para a Magna Grécia com o intuito de conhecer mais de perto comunidades pitagóricas. Nesta ocasião, veio a conhecer Arquitas de Tarento. Ainda durante essa viagem, Dionísio I convidou Platão para ir à Siracusa, na Sicília. Platão partiu para Siracusa com a esperança de lá implantar seus ideais políticos. No entanto, acabou se desentendendo com o tirano local e retornou para Atenas.
Em seu retorno, fundou a Academia. A instituição logo adquiriu prestígio e a ela acorriam inúmeros jovens em busca de instrução e até mesmo homens ilustres a fim de debater idéias. Em 367 a.C., Dionísio I morreu, e Platão retornou a Siracusa a fim de mais uma vez tentar implementar suas idéias políticas na corte de Dionísio II. No entanto, o desejo do filósofo foi novamente frustrado. Em 361 a.C. voltou pela última vez à Siracusa com o mesmo objetivo e pela terceira vez fracassa. De volta para Atenas em 360 a.C., Platão permaneceu na direção da Academia até sua morte, em 347 a.C.
[editar] Obras
A colecção das obras de Platão compreende trinta e cinco diálogos e um conjunto de treze cartas. Os seus diálogos podem ser considerados dentro de quatro períodos distintos:
Diálogos considerados de juventude ou socráticos, até cerca de 390 a.C. (antes da morte de Sócrates).
- Apologia de Sócrates
- Críton ou Do Dever
- Íon ou Da Ilíada
- Laqués ou Da coragem
- Lísis ou Da Amizade
- Cármides ou Da Sabedoria
- Eutífron ou Da Santidade
Diálogos ditos de transição:
- Eutidemo ou Da Erística
- Hípias menos ou Da Mentira
- Crátilo ou Da Etimologia
- Hípias Maior ou Do Belo
- Menexeno ou Do Epitáfio
- Górgias ou Da Rétorica
- República - livro I
- Protágoras ou Dos sofistas
- Ménon ou Da Virtude
Diálogos de maturidade (escritos provavelmente entre 387 a.C. e 368 a.C.):
- Fédon ou Da Alma
- Banquete ou Do Bem
- República - livros II a X
- Fedro ou Da Beleza
Diálogos considerados de velhice:
- Parménides ou Das Formas
- Teeteto ou da Ciência
- Sofista ou Do Ser
- Político ou Da Realeza
- Filebo ou Do Prazer
- Timeu ou Da Natureza
- Crítias ou Da Atlântida
- Leis (inacabado)
Há ainda outras obras cuja autoria é contestada: Alcibíades I e II, Epinómide ou Do Filósofo, Hiparco, Minos, Os Rivais, Téages e Clítofon.
[editar] O Mito da Caverna
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. Libertado e conhecedor do mundo, o priosioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo.
Extraído do livro "Convite à Filosofia" de Marilena Chaui.