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Edição atual tal como às 16h28min de 22 de março de 2009

[editar] Entrevista com Marcelo Gleiser

Entrevista realizada em Dezembro de 2007 na comunidade Física do orkut: link da entrevista.


[editar] Introdução sobre Marcelo Gleiser

O Prof. Marcelo Gleiser nasceu no Rio de Janeiro e fez seu bacharelado em Física na PUC-RJ (1981) e mestrado na UFRJ (1982). Ele foi aluno de iniciação científica do Prof. Jorge A. Swieca e depois trabalhou com o Prof. Francisco Antonio Doria na UFRJ. Em 1986 obteve seu doutorado em Física pelo King's College de Londres. Esteve no Fermilab e no Kavli Institute for Theoretical Physics (KIPT) da UC Santa Barbara como pos-doc e então mudou-se para o Dartmouth College onde hoje é Appleton Professor of Natural Philosophy.

O Prof. Marcelo Gleiser trabalha principalmente com teorias quânticas de campos e cosmologia, como oscilons/solitons, transições de fases no universo primordial, a origem da vida e outros tópicos.

Em 1994 recebeu o Presidential Faculty Fellows Award da Casa Branca (EUA); é "Fellow" da American Physical Society; membro da Sociedade Internacional de Estudos da Origem da Vida.

O Prof. Gleiser é mais conhecido pelo seu trabalho de divulgação científica, incluem-se ai os livros "A Dança do Universo", "Retalhos Cósmicos", "O Fim da Terra e do Céu" (todos pela Cia. das Letras) e a série de livros "Imortais da Ciência" da Editora Odysseus; uma coluna na Folha de S. Paulo e programas para televisão brasileira e outros documentários.

Pelos trabalhos de divulgação recebeu duas vezes o Prêmio Jabuti, o Prêmio José Reis do CNPQ e teve um de seus ensaios escolhidos por Oliver Sacks para os melhores ensaios norte-americanos de 2003 sobre ciência.

[editar] Perguntas e respostas

George: Para ser um fisico de destaque internacional é preciso se dedicar aos estudos quantas horas por dia?

Não existe uma receita. Mas para ser um cientista sério, a dedicação é essencial. Física tem que ser vista com algo maior do que uma mera profissão; é uma opção de vida, um compromisso que vai além da rotina diária. Portanto, estudar é parte da sua vida e não uma ocupação ou tarefa chata.


pedro: O senhor planeja voltar para lecionar no Brasil? Qual a sua análise do sistema acadêmico brasileiro hoje em dia?

Penso sempre em retornar ao Brasil, se bem que sem planos muito claros. Talvez daqui a uns anos, quando as coisas se acalmarem (se se acalmarem) no Rio, a cidade onde cresci e onde está minha famÌlia e muitos amigos. O sistema acadêmico brasileiro, dentro da realidade da América Latina e do que ocorre com o ensino público, me parece relativamente estável; existem boas universidades, onde a formação é comparável aquela obtida nas boas escolas dos EUA e Europa. O que falta são recursos para que sejam melhorados os laboratórios tanto de ensino quanto de pesquisa, os computadores e os software p/ aplicações. Mesmo assim, há espaço para pesquisa de excelente nível, que vem sendo feita em diversas áreas, da astronomia a zoologia.


Tom: Perguntas 5-7 (vide acima) E para o lazer, não relacionado a pesquisa/estudo, o que mais o senhor gosta de fazer?

Resolvi fazer física porque é o único corpo de conhecimento que aborda as questões mais fundamentais que podemos fazer sobre a Natureza e que tem chances de respondê-las de forma racional. Sou um apaixonado pela Natureza e seus mistérios. Nada melhor do que a física para mergulhar fundo neles. Se vc puder, dê uma olhada no meu livro recente, "Cartas a um Jovem Cientista", onde abordo essa questão em detalhe. (E sua última também)

Cinco físicos: não sei se conhecerá todos os eles, mas começando com o mais óbvio:

  • Einstein, esse não precisa explicar
  • Steven Weinberg, autor de Os 3 primeiros minutos, um livro que muito me influenciou no inicio de minha carreira. Depois, seus outros livros mais avançados me ajudaram muito tb. Seu trabalho é extremamente claro e sempre relevante.
  • J.R. Oppenheimer, conhecido como o físico que chefiou o projeto Manhattan da bomba atômica, mas fez muitas outras coisas, inclusive a teoria inicial de estrelas de neutrons e buracos negros. Também era uma pessoa muito culta e aberta para as artes e para a literatura, algo que valorizo.
  • Sidney Coleman, um fisico teórico que acaba de falecer, cujo trabalho em teoria de campos é a influência mais forte que tenho na minha pesquisa.
  • Freeman Dyson, que tanto fez na descrição da eletrodinâmica quântica, um dos físicos mais importantes da segunda metade do século XX e uma pessoa genial, além de ser meu mentor.

Gosto muito de história e de romances históricos. Por exemplo, um livro que gostei muito recentemente é A Sombra do Vento. Faço pesca com iscas artificiais (chamado de fly fishing), yoga, corro, toco violão.


Leandro: O que o senhor acha da prática de divulgação científica feita por jornalistas?...

Acho que uma coisa não exclui a outra; jornalistas científicos, contanto que sejam bem treinados, fazem um trabalho essencial; eles conhecem a linguagem jornalística e têm treinamento para escrever para o público não especializado. Cientistas, caso saibam escrever, ou se comportar em frente a uma camera ou uma platéia, deveriam tb fazer o mesmo. No Brasil, com mais freqüência do que fazem, como é o caso nos EUA e Europa. O desafio é grande nos dois casos; cientistas têm que achar a linguagem adequada, as analogias e metáforas que tenham ressonância com sua audiência. Jornalistas têm que entender sobre o que estão escrevendo e se proteger da tentação ao sensacionalismo, que deturpa fatos e cria polêmicas inexistentes para poder vender mais.


Adriano: alguns físicos acreditam que o LHC pode decepcionar os mais entusiasmado...

Boa pergunta. Acho que a física que será extraída do LHC será extremamente importante, mesmo que não seja descoberta a supersimetria ou dimensões extra. A questão da origem da massa, que é a motivação mais importante do LHC, deverá ser respondida; saberemos se existe mesmo o Higgs, qual a sua massa, ou se o mecanismo de geração de massa é algo de novo e surpreendente. Claro, se a supersimetria for descoberta, o furor será incontrolável. De qq forma, o mais provável é que brechas no modelo Padrão sejam encontradas. E, delas, novas direções para a física de partículas. Por outro lado, não há dúvida que a astrofísica e a cosmologia estão já dando contribuições fundamentais à física de partículas. Por exemplo, essa semana saiu um artigo de uns caras que usam os dados do WMAP, que mde a anisotropia da radiação cósmica de fundo, para conjecturar sobre modelos de inflação, que dependem de físca de partículas a 1017 GeV, muito além do LHC.Gosto de adotar uma posição de complementaridade: tanto os aceleradores quanto as observações astronômicas terão ainda muito o que nos ensinar. O desafio é convencer os governos de que aceleradores devem ser construídos.


Vitor: como o senhor vê as críticas de físicos como Roberto de Andrade Martis a seu livro "A Dança do Universo"?

Quando recebi carta do prof. Martins sobre meu livro a Dança do Universo, imediatamente incorporei algumas mudanças que julguei relevantes na segunda edição do livro, onde aliás incluí um agradecimento ao prof. Infelizmente, me parece que a coisa não parou por aí. O que vejo é uma confusão com relação à função da divulgação científica. Não é meu objetivo, em meus livros ou nos de qualquer divulgador de ciência, de Stephen Hawking a Carl Sagan ou mesmo o Einstein, formar físicos mas informar as pessoas sobre a ciência de forma acessível. Para tal, temos que sacrificar o rigor das explicações para que metáforas e analogias sejam usadas sugestivamente. Você pode falar nas sete cores do arco-íris para motivar o estudo da luz, ou no espectro contínuo de freqüências de radiação eletromagnética na janela do visível. Divulgação é uma tradução e, como tal, sempre involve um certo sacrifício de significado. Por exemplo, quando falo que na relatividade geral Einstein disse que massas deformam o espaço como você deforma seu colchão ao sentar-se nele. Ora, obviamente não é bem isso. Mas a imagem é sugestiva. Dizer que está errada é bobagem, pois não é esse o objetivo da analogia. Os que usam as críticas do prof. Martins sobre meu primeiro livro (são já sete após esse e não ouvi mais qualquer crítica) para atacar meu trabalho de divulgação provam apenas seu atraso intelectual com relação ao importante papel da divulgação científica na sociedade moderna. Felizmente, a maioria esmagadora da comunidade científica do Brasil não só apoia meu trabalho como participa cada vez mais dessa importante atividade. Digo sempre; quem não gostar dos meus livros, por favor, escrevam livros melhores pois é disso que nossa população precisa!


Leandro: Qual é a sua opinião com relação ao ensino do criacionismo (Design Inteligente) nas escolas públicas brasileiras? ...

A discussão é complicada. Vejo como totalmente absurda a inclusão de qualquer menção ao criacionismo no currículo escolar científico. Poderia até entender sua inclusão na área de Humanas, em teologia, por exemplo, mas jamais em ciência. O debate com os criacionistas não serve para que eles mudem de idéia, mas para informar a população sobre o erro dessas idéias. Portanto, acho sim importante que cientistas aceitem debater esse temas em público. Nos EUA, a coisa deu uma esfriada após um juíz na Pensilvânia criticar severamente os criacionistas, acusando-os de hipócritas. Fiz o mesmo em um editorial do jornal americano Boston Globe, em agosto de 2005. O perigo é transformar ciência em política. A veracidade das idéias científicas não estão sujeitas a voto. … contra isso que os cientistas devem lutar.


Indy: Pergunta 1) Há alguns meses, num artigo na Folha de São Paulo, o Sr. defendeu o uso de embriões humanos que seriam descartados por clínicas de fertilização nas pesquisas de células tronco. ... Boa pergunta. Casais que não podem ter filhos geram muitos óvulos que não serão implantados no útero mas que poderiam ser fecundados. Será que eles estão cometendo um crime ao fazê-lo? Será essa situação tão diferente dos pesquisadores que usam embriões para extrair células-tronco? Não acredito que seja. Em ambos os casos, embriões são sacrificados para gerar vida; ou diretamente ou através de curas de doenças. Felizmente, como você ressaltou, talvez a dificuldade ética do uso de embriões para células-tronco esteja com os dias contados. Fica só o uso deles na reprodução auxiliada, como in vitro, por exemplo.


Luciano: Professor, existe algum livro de Física que considera especial? Qual?

Poso citar dois? O livro de mecânica quântica do David Bohm, e o de relatividade geral do Steven Weinberg.


Sheldon: Temos muitos ídolos antigos da física (Galileu, Kepler, Newton, Einstein, Dirac e tantos outros). Em sua opinião ainda haverá espaço para grandes gênios na física ou "a grande obra" será feita com milhares de contribuições individuais importantes?

Cada vez menos provável que grandes revoluções científicas sejam obra de um ou poucos indivíduos. Mesmo porque existem muito mais pessoas trabalhando no mesmo assunto, o que não ocorria no passado. Fora isso, a pressão para publicar não permite que pesquisadores passem muito tempo cogitando profundamente sobre uma questão. Mas, mesmo dentro desse quadro, existe sim espaço para indivíduos darem grandes contribuições


Consuelo: Recentemente foi anunciado pela imprensa que cientistas conseguiram criar células- tronco a partir de células da pele. (...) Filosofia, disciplina essencial no desenvolvimento do conhecimento humano? Até quando as questões do "espírito" vão ser delegadas exclusivamente às religiões? Biologia e Neurociência, áreas onde devemos nos concentrar? As questões da vida e da neurociência irão nos ensinar a formar as tecnologias do futuro?

Acho que as questões do que seja “espírito”, se entendido de modo mais aberto do que sinônimo para “alma” mas sim como a mente humana e a auto-consciência, já não são mais província apenas da religião e sim das ciências neurocognitivas. Sem dúvida, a combinação da genética com as neurociências estão já redefinindo o que significa ser humano. O futuro promete a criação de uma espécie de “super-humanos”, com todas as complicações morais e éticas que esses avanços tecnológicos implicam. Talvez seja essa nossa missão evolucionária, criar nossos sucessores.


Adélcio C Oliveira: Até meados da década de 80 ... (perguntas 1 e 2)

Acho muito importante a realização de feiras de ciência, e de escolas que organizam clubes de ciência, onde jovens discutem e trabalham juntos em projetos científicos. … um outro modo de se aprender ciência e de desenvolver a prática do trabalho em grupo. Seria o caso do MEC tomar a liderança e promover concursos nacionais. Ou, quem sabe, algumas indústrias privadas poderiam financiar isso?


Fernando:O que o senhor acha da divulgação científica voltada à física no Brasil, é suficiente? ...

Acho que existe espaço para tudo. Pessoalmente, como fica claro nos meus livros, gosto da perspectiva histórica do conhecimento, ou de como chegamos aqui a partir do que conhecíamos no passado. Talvez seja essa a melhor tática de divulgação em livros e documentários, pois dá às pessoas a visão histórica de como as idéias foram sendo desenvolvidas e por quê.


Leo: / Fernando / [PENTA]Arthur:: (Pergunta combinada c/ o mesmo tema) vale a pena deixar de trabalhar para se dedicar unicamente aos estudos de física? Depois de concluir a graduação um astrônomo encontra um bom campo de trabalho? E para isso, é necessário estudar no exterior? Se um aluno tem um bom orientador para um doutorado aqui no Brasil e outro bom orientador, em um país como EUA, Canadá, Itália, Alemanha e alguns outros de mais prestígio, qual o melhor, ficar por aqui, ou procurar ir para algum desses países? Você acha viável fazer um doutorado no exterior logo após a graduação, sem fazer o mestrado?

Deixar de trabalhar para se dedicar aos estudos? Tudo depende de sua situação pessoal. Se for possível, sem dúvida é a melhor opção. Quanto ao campo de trabalho, depende muito de você. Os melhores alunos, os mais dedicados, encontram espaço no mercado, seja acadêmico ou ensino. A questão é se você está disposto a se dedicar de verdade aos estudos e a carreira, como escrevi em “Cartas a um jovem cientista”.

Hoje em dia, não é tão importante sair para um doutorado fora. Se vc tem um bom orientador no BR e está numa universidade boa, não é óbvio que no exterior será muito melhor. Pode ser pior, aliás.Talvez uma bolsa sanduíche seja uma boa, pois te dá a experiência de estudar fora. Mas um pós-doutorado no exterior é, para quem quer seguir a carreirta acadêmcia, muito útil.

Quanto ao mestrado, nos EUA isso não existe; terminada a graduação, se vai direto ao doutorado. Mestrado é dado aos alunos que não dão certo.


Tom: Perguntas 1 e 2

Boas perguntas. Os documentários do Fantástico podem ser encontrados no youtube. Dos livros, a Dança do Universo saiu em formato de bolso, que é mais barato. Quanto às colunas, vou averiguar com a Folha, ver se isso é possível.


Лэандро: Há muitas candidatas a GUTs por aí ...

Ótimas perguntas. Até há uns três anos, achava sim a construção de uma teoria de unificação completa não só possível como questão de tempo. Hoje, penso de modo diferente (e estou começando a escrever um livro sobre isso). Acho que a unificação é baseada num mito, herança da nossa cultura monoteísta. Posso estar enganado, claro, mas acho que a Natureza não dá a menor bola para nossas expectativas míticas. Vamos ver o que o LHC nos dirá sobre a origem da massa e sobre a trivialidade. Certamente, o Modelo Padrão está incompleto. (E é uma unificação meio capenga, estritamente falando, pois mantém as duas constantes de acomplamento.) Mas será que a resposta é a supersimetria?


Rômulo: ...: é possível um estudante que não tem acesso as essas boas universidades, como nós, que somos nordestinos, conseguir ter uma boa formação equiparável aos estudantes do Sudeste ou até mesmo aos padrões internacionais apenas por esforço próprio?

Acho plenamente possível, mas requererá muita dedicação e energia. Agora, não sei se concordo com o que vc disse sobre as universidades nordestinas. A UFPE, por exemplo, é muito boa.


Vanderlei: o Sr. considera que "Todo bom físico é meio filosofo?" O Sr. se considera um filósofo?

O Steven Weinberg dizia que enquanto os filósofos ficam discutindo o que é espaço e tempo, os físicos determinam o que é espaço e tempo. Agora, após uma certa idade, é bem comum que físicos interesados em questões mais fundamentais virem meio filósofos. Diria que esse é o meu caso.(e o do Weinberg também, sem comparações, claro)


Bruno / Eu amo Eslavas : Como é o mercado de trabalhos para os físicos nos EUA com a graduação, com o mestrado e com o PHD? Há muitos físicos na indústria mesmo? Recentemente li que no Brasil 70% da pesquisa científica é feita pelas universidades brasileiras. Já países desenvolvidos como Coréia do Sul essa fatia corresponde só a +- 20%, sendo a maioria das pesquisas feita pelo setor privado. Gostaria que o senhor dessa sua opinião a respeito do Brasil nesse cenário e num contexto mundial.

Bem verdade que o Brasil precisa ainda desenvolver muito seu parque de pesquisa financiado por indústria. Isso é um sintoma de um país que, historicamente, foi sempre focado na agropecuária e que só de umas décadas para cá começou, timidamente, a se tornar mais competitivo tecnologicamente. Infelizmente, para isso o governo tem que investir muito na educação de engenheiros e cientistas, muito mais do que é feito. E, para piorar, nem professores de ciência temos para educar e motivar as crianças. A meu ver, é no ensino básico que a reforma tem que começar. E o quanto antes.


Consuelo: Professor Marcelo Gleiser, numa semana que noticia-se aqui no Brasil a calamidade de nossa escola, ... Dentro deste contexto aluno/professor, além da física, o que o Professor Jorge A. Swieca lhe ensinou?

O ensino de física e de ciência é um aprendizado que depende fundamentalmente da relação mentor-pupilo. Temos que ter um ou mais bons mentores, pessoas que nos motivam e nos inspiram. Nesse sentido, Swieca foi um grande mentor. Apesar de famoso e ocupado, sempre tinha tempo para responder minhas perguntas nem sempre geniais. O que mais aprendi com ele foi a me dedicar profundamente à pesquisa e ser fiel à minha intuição. Falo bastante dessa relação mentor-aluno no “Cartas a um jovem cientista” e, claro o romance “A Harmonia do Mundo” é essencialmente sobre isso.


[K]ah ♪ : O Senhor conhece alguma mulher que tenha se destacado como uma grande Física? Se sim, conte-me um pouco de sua vida acadêmica e profissinal.

Diria que minha colega de turma, a Angela Olinto, hoje professora no dept de astronomia e astrofísica da universidade de Chicago, é uma das físicas brasileiras mais bem sucedidas hoje. Ela estudava muito, muito mesmo, e nunca se deixou intimidar pelo fato de haverem tantos homens em ciência. Fez doutorado no MIT, posdoc no Fermilab e depois foi para Chicago. Visite o seu site. Outra, que foi brevemente minha namorada quando era ainda aluna de pos (ou seja há uns 20 anos.), é a Lisa Randall, hoje professora em Harvard; super inteligente e focada, e muito, mas muito dedicada.


Consuelo: A história do Universo dita as leis físicas? Ou as leis da física ditam a história do Universo? ... O que nos predispõe a conhecer algo verdadeiramente?

A primeira pergunta me parece ser sobre a origem das leis da física, assunto muito fascinante e complexo. Afinal, as leis da Natureza são uma propriedade emergente do universo, ou ditaram a sua própria emergência? Caso tenham ditado sua emergência, temos que supor que nosso universo não é o único, que existem outros que fazem parte dum multiverso onde muitas (todas?) as leis são, em princípio, possíveis. No primeiro caso, que acho mais provável e viável, as leis são uma invenção nossa que usamos para descrever a Natureza que medimos através de nossas observações. Ou seja, as leis são princípios organizativos baseados em validação empírica. Elas não são eternas, pois podem ser revisadas à media que aprimoramos nossas observações.

Já as segunda e terceira perguntas me parecem mais vagas. Conhecimento pode ou não ser revolucionário, depende de seu contexto e conteúdo, como no caso de mudanças de paradigmas. Portanto, ele é uma soma de valores que, de tempo em tempo, podem sofrer rupturas e revisões profundas. O conhecimento abrange ambas possibilidades.


Leonardo: como é / foi seu relacionamento com Freeman Dyson e Abdus Salam?

Abdus Salam foi meu examinador externo de doutorado. Ele foi muito legal, na época estava interessado em cosmologias em mais de 4 dimensões. Chegou até a me escrever cartas de recomendação p/ meu pós-doutorado. Como diretor do Instituto em Trieste, ele tinha interesse em motivar alunos de países do "terceiro mundo". Freeman Dyson conheci aqui em Dartmouth, quando ele visitou o departamento por 3 meses em 1995. Desde então mantemos uma excelente relação, que gosto de pensar seja mentor-pupilo. Ele me deu já vários conselhos, eespecialmente em meu trabalho de divulgação científica. O que mais me impressiona em Dyson é a sua simplicidade e senso de justiça. … uma das pessoas mais corretas que conheço, um verdadeiro exemplo de conduta ética em ciência. Como diz um colega meu, Freeman é membro de uma espécie em extinção, a dos "cavalheiros-cientistas" (gentlemen-scientists).

Leonardo: Como chegou a participar para o Globo Ciência? Além de gravar o sr. trabalhava na elaboração dos textos do programa?

A coisa ocorreu por convite da produção do Canal Futura. Eu desenvolvo a minha participação, baseado no tema do programa. Não tenho participação direta na elaboração dos roteiros. As vezes, discuto temas possíveis.

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