Casos de Uso/Estorias de Uso/Navegar e Preciso
Jandira não é marinheira de primeira viagem: antes de ser Stóica já foi Facebookeira e Orkuteira.
O uso que Jandira fez dessas redes é um uso silencioso (às vezes Jandira pensa a si mesma como uma predadora movendo-se furtivamente pela floresta, ao ir visitando perfil-por-perfil. Por vezes ela pensa "Este é um rato" ou "Esta é venenosa". Só quando Jandira encontra um perfil como o dela - todo sem preencher, apenas um login - é que ela pensa "Ah! Aqui está um predador".
Não é que Jandira tenha problemas com a intimidade e não queira se relacionar com as outras pessoas por causa disso. Nem devido à sua covardia emocional é que Jandira permanece nas sombras.
Jandira observa sem interagir porque essa é a maneira mais difícil de conhecer alguém.
E Jandira racionaliza que a dificuldade é a melhor coisa do mundo. Para ela, algo bom é algo duro.
Os demais usuários sinceramente nem sabem que Jandira existe. Mas muitos já foram realmente amados por ela. Vão argumentar que amor só existe a dois, mas então como chamar aquele calorzinho no peito de Jandira, quando ela compreende algo sobre alguém?
"Veja esta mensagem de blog, por exemplo", ela pensou uma vez a meu respeito. "O cara escreveu 'falsa' aonde obviamente queria escrever 'falta'. Isso talvez indique que ele deseja uma mulher falsa (falta falsa)... Mas quem seria ela? Hummm...".
"E se o ato falho for 'falsa falta', isto é, que ele considere que o conceito psicanalítico de falta é de alguma maneira falso? Sim, creio que é isso! Ele já escreveu sobre psicanálise, não é mesmo?". Jandira busca pela palavra-chave 'psicanálise'. "Sim, aqui está a mensagem. É isso mesmo: ele acha que o conceito de 'falta' é incompleto. Puxa, meses depois ele comete esse ato falho confirmatório. Aposto que ele gostaria que alguém o questionasse sobre o assunto. Espero que alguém o faça.".
