Mediação e Informação

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, CIENCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO CIÊNCIAS DA INFORMACÇÃO E DA DOCUMENTAÇÃO

Bruno Cesar Rodrigues – nº USP 5482540






COMUNICAÇÃO: MEDIAÇÃO E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA EM MUSEU DE CIÊNCIAS*


Trabalho apresentado como requisito de aprovação na disciplina Mediação e Informação, no segundo semestre de 2007, no curso de Ciências da Informação e da Documentação.

Orientadora: Profª Silvia Maria E. Santo







Ribeirão Preto 2007

INTRODUÇÃO A utilização de palavras rebuscadas e termos técnicos nas produções/divulgações científicas não permite o acesso efetivo às informações científicas por parte do público leigo. Tal fato acaba por demonstrar que tais textos foram produzidos apenas de cientistas para cientistas, em detrimento da necessidade de se saber o que se desenvolve no mundo científico, por parte do público que não faz parte diretamente deste meio. Na realidade, não somente nos textos ocorre este problema, mas também nos processos de mediação realizados por pessoas. Neste caso, o problema é observado nas unidades de informação, sejam estas produtoras ou apenas disseminadoras de informações científicas, como os museus, bibliotecas, arquivos etc. Esse é um quadro que deveria ser mudado, sendo necessário ser investido no aprimoramento de técnicas de mediação, para que o mediador/divulgador responsável possa transmitir tais informações, de cunho científico, de maneira clara e sem distorções. Através de pesquisas realizadas com os descritores “mediação”, “divulgação científica”, “popularização da ciência”, nos repositórios DICI (Diálogo Científico) e Oásis , ambos do IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia), encontrou-se alguns artigos que discutiam, de formas diferenciadas, o assunto relacionado ao processo de mediação de informação científica e selecionados os que mais chamaram atenção do autor deste. Também foram realizadas buscas pelos mesmos termos no site do Scholar Googel (<http://scholar.google.com.br/>), onde foi encontrado um livro digital cujo nome é Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de Ciência, organizado por Luisa Massarani, Matteo Merzagora e Paola Rodari, no Rio de Janeiro – Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz, editado pela Fiocruz. Este livro cita exemplos do que ocorre em outros países e no Brasil, mostrando que cada museu e centro de ciência adotam filosofias diferenciadas, bem como estratégias particulares para a mediação e a capacitação dos mediadores. No presente trabalho, buscar-se-á discutir, de forma sucinta, a questão da mediação da informação, ressaltando as ocorridas em museus e centros de ciências, tecendo primeiramente um breve comentário em relação à comunicação (desde a comunicação oral até os novos tempos, o digital). COMUNICAÇÃO Antes da escrita, a comunicação se dava diretamente, pessoa ó pessoa, ou pessoa ó comunidade. Em tal comunicação, a oral, o tempo/espaço ocorre no momento da transmissão da mensagem. Após a criação da escrita, a mensagem passa a ter seu próprio espaço/tempo, tornando a mensagem algo desassociado do sujeito que a criou, culminando em um tempo e um espaço próprio, constituindo seu próprio significado. Por não depender mais da transmissão direta e presencial, a informação passa a ser interpretada e reinterpretada de formas cada vez mais diferenciada pelos receptores, pois estes não necessitam mais do autor para se ter acesso às informações. Há também o fato de haverem variáveis de épocas e de contextos em que a obra é acessada, influenciando em boa medida a interpretação da mesma pelas pessoas. Também há os meios de comunicação de massa, sendo a internet o mais utilizado e responsável pelo maior impacto na distribuição/disseminação de informações, na atualidade. Devido a essa facilidade comunicativa deste meio, há uma pseudodemocratização das informações, visto o fato de que toda e qualquer pessoa, com acesso à rede, pode possuir toda informação que deseja sobre o lhe interessa. Enfatiza-se a pseudodemocratização porque as informações disponibilizadas estão decodificadas, em linguagens nem sempre acessíveis, não permitindo o pleno acesso ao conhecimento que se pode gerar com tais informações, ou seja, não há plena comunicação. Segundo Aguiar, 2007, “comunicação é o processo de troca de significados entre os indivíduos por meio de um código comum e envolve dois pólos, uma fonte e um destinatário, em um processo que ocorre através de um meio denominado canal”, sendo assim, se o leitor/usuário não consegue decodificar uma determinada informação, por não possuir um código comum, a comunicação não se faz, tornando necessário que um mediador entre no jogo. Sabe-se que a utilização de mediadores não é ruim no processo de transmissão de informação, mas há que se prestar atenção ao fato de que muitos mediadores, por não possuírem o devido preparo, ao invés de transmitirem informação, confundem ainda mais o receptor devido às distorções que ocorrem. O fato apresentado quanto à distorção é percebida nos mais diversos âmbitos de produção e disseminação de informação, o que leva alguns museus, por exemplo, a capacitarem os profissionais responsáveis pela realização dessa função de mediador. COMUNICAÇÃO DE CIÊNCIA Os museus e centros de ciência têm se multiplicado em grande velocidade no Brasil, especialmente a partir dos anos 1990. Levantamento feito pela Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC), pelo Museu da Vida e pela Casa da Ciência/Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2005, identificou cerca de 110 dessas organizações – de variados portes e finalidades – distribuídas em todo o país. Central na atividade cotidiana dos museus e centros de ciência é a mediação entre o público e as exposições e atividades oferecidas por essas organizações. A exemplo do que ocorre em outros países, cada museu e centro adota uma filosofia particular, bem como estratégias diferenciadas para a mediação e a capacitação dos mediadores. No entanto, no Brasil, há ainda poucos espaços que permitam compartilhar essas ricas e variadas experiências. Tais espaços permitiriam o estímulo à reflexão sobre o papel da mediação e do mediador, o que poderia levar a um aprimoramento da atividade, bem como a implementação de ações articuladas de capacitação desse profissional. (MASSARANI, 2007, p. 6) Sob a perspectiva acima que se inicia o livro digital Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de Ciência, mostrando a preocupação em relação ao profissional mediador. Segundo Rodari e Merzagora, é necessário deixar de lado um modelo de comunicação da ciência moldado sobre suposições do que o público não sabe e passar para um modelo que tem como ponto de partida o que o público sabe; [e] uma comunicação na qual apenas um dos atores amplia seu conhecimento ou está aberto à mudança não é útil para expandir nossa compreensão de mundo (Rodari,e Merzagora, 2007, p. 9). A partir destas afirmações percebe-se claramente o posicionamento que o profissional mediador deve possuir em relação a seu público no processo de transmissão de informações. Mesmo em um museu ou centro de ciências, não adianta tentar observar apenas o que o público não sabe, buscando informá-lo/ensiná-lo sobre tudo em seus mínimos detalhes, principalmente os pontos em que não possuem conhecimento prévio. Pelo contrario, o enfoque deve ser naquilo que se sabe para que se aprenda ainda mais e, a partir daí, tudo se tornar mais simples a tal público. Os mediadores “são os únicos que podem literalmente dialogar com os visitantes. Logo, podem interpretar melhor os novos modelos de comunicação da ciência” (Rodari,e Merzagora, 2007, p. 9). Ou seja, os mediadores também possuem sua parcela de responsabilidade em buscar novas formas de realizar sua função diante de seu púbico receptor. Essa função não é apenas do museu/centro. De nada adianta apenas o ambiente estabelecer formas de se realizar o processo de mediação se o responsável por tal realização não colaborar através da observação e busca de inovação. Para isso, segundo os mesmos autores citados acima essa tarefa irá implicar na reavaliação do papel dos mediadores em centros e museus de ciência, tornando necessário responder algumas perguntas “não respondidas – e a maioria não perguntada: Quem são eles? Qual é o seu status profissional? Quais são suas expectativas? Como são selecionados? Como são capacitados? E para atuar com que tipo de tarefas no museu?” (Rodari,e Merzagora, 2007, p. 9). Resumindo, com as palavras dos mesmos autores: “Mediadores são o único ‘artifício museológico’ realmente bidirecional e interativo. De fato, nenhuma exposição interativa ou ferramenta multimídia pode realmente ouvir os visitantes e responder às suas reações” (Rodari,e Merzagora, 2007, p. 10). Para que uma informação seja transmitida claramente em um museu ou centro de ciência, como se percebe, é necessário que se invista no mediador de tais informações, mas também que se observe o interesse desse mesmo profissional. A transmissão de informações científicas, no caso as destas unidades, não coisas fáceis e simples de se transmitir, porém, o profissional mediador deve estar ciente e disposto a mudar esse quadro. Nesse caso, os mediadores são os principais responsáveis pela popularização/divulgação de ciência, o que os torna ainda mais especiais. Segundo Screven, Se se quer comunicar com o visitante, o primeiro que tem de ser feito é decidir que coisa se quer comunicar e de que maneira essa comunicação será traduzida em uma conduta medível no visitante. Caso não seja feito assim, não somente não poderá se avaliar se realmente temos comunicado alguma coisa, como também não poderemos definir, para a exposição, o tipo de interação que há entre o visitante e a citada exposição, o que é essencial se queremos que exista verdadeira comunicação entre a mensagem que se envia e a que se recebe. (Screven, 1976, p. 273, apud Sánchez Mora, 2007, p. 23). Sendo assim, esse ponto não só mostra como também confirma a necessidade de se haver tradutores que esclareçam as mensagens da exposição para o público, pois nem sempre tais mensagens se encontram expostas em linguagens simples e sim científicas, não acessíveis ao público leigo. A partir disso, relatando sobre a figura e funções dos mediadores, Sánchez Mora diz serem a necessidade de contar com esses tradutores verbais e o crescimento da própria instituição museológica, que pressupõe colocar em andamento distintos programas comunicativos de acordo com as diversas audiências, tornam imperiosa a necessidade de contar com pessoal especializado, entre eles os mediadores, cuja função, além de fazer accessível os conteúdos do museu para os diversos tipos de visitantes, é a de desenvolver ou implementar atividades educacionais não-formais de índole diversa. (Sánchez Mora, 2007, p. 23-4). Enfim, a capacitação do guia/mediador é fundamental para que a proposta expositiva de um museu seja entendida. Ou seja, a capacitação deste profissional determina a transmissão/divulgação científica que se pretende um museu ou centro de ciências. CONCLUSÃO A ciência, as informações científicas, está em todos os lugares, desde os aspectos mais simples até os mais sofisticados. Ainda assim, são poucos os que sabem de sua existência ou sabem como interpretá-la. Há um grande analfabetismo científico por todo o país, o que acarreta no mau desenvolvimento do cidadão médio e do próprio país em que vive. O ato de ignorar fatores fundamentais para o seu bem-estar, sobrevivência e tomada de decisões, gera grandes preocupações. Sabe-se que o conhecimento da ciência, em seus diversos níveis, tem a capacidade de dar a todo e qualquer cidadão uma visão de mundo muito mais ampla, além de dar-lhe fundamentos relacionados ao estudo experimental. O ato de adquirir conhecimento científico permite que se compreenda melhor o que ocorre a sua volta, as transformações cotidianas etc., além de permitir a tomada de decisões, passo fundamental em uma sociedade democrática. Caso ocorra o contrário, demagogos e especialistas poderão tornar vítimas os desinformados. Ou seja, “a ignorância de fatos básicos da ciência produz cidadãos ingênuos, propensos a acreditar facilmente em fatos pseudo-científico, potencialmente prejudiciais a si próprio e à sociedade” (MULLER, p. 2002). Pensando sob este prisma, percebe-se a necessidade de se tornar mais acessível os fatos científicos existente e que ocorrem a todo instante ao público leigo (não participantes ativos dos processos científicos), levando-se em consideração, também, o direito a conhecer e ter acesso às informações de cunho científico, porém, sem se esquecer de disponibilizá-la em uma linguagem de fácil acesso e sem distorções. É nesse ponto, o da disponibilização, que se encaixam os mais diversos meios de informação, educação e cultura, dentre eles: as universidades, os museus, os arquivos, os jornais, os periódicos, a internet dentre muitos outros. Estes meios são responsáveis diretos pelo processo de mediação das informações científicas e o público leigo, sempre buscando melhor transmitir para bem informar. Sendo assim, e delimitando o enfoque aos museus e centros de ciências, percebe-se a necessidade de se capacitar os profissionais mediadores, visando garantir a transmissão/divulgação de ciências ao público leigo. Também se percebeu que a não capacitação de tal profissional pode acarretar em distorções da informação que se transmite, sejam elas voluntárias ou involuntárias, prejudicando o usuário final. Ao afirmar que “expressar em linguagem simples e compreensível conceitos complexos que demandam linguagem especializada, sem perder nada de importante no processo” (MULLER, 2002), a autora demonstra não ser fácil o processo de mediação de informações científicas. Entretanto, sabe-se que a capacitação e empenho é o melhor recurso para que o processo mediático seja realizado com sucesso. REFERÊNCIAS

AGUIAR, Giseli Adornato de. A comunicação na era digital. Núcleo José Reis de Divulgação Científica da ECA/USP, São Paulo, ano 7, n. 39, jul./ago. 2007. Disponível em <http://www.eca.usp.br/nucleos/njr/voxscientiae/giseli_adornato_aguiar_38.htm>. Acesso em 20 nov. 2007. MASSARANI, Luisa, MERZAGORA, Matteo, RODARI, Paola. Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de Ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007. MUELLER, Suzana P. M. Popularização do conhecimento científico. DataGramaZero – Revista de Ciências da Informação, s/l, v. 3, n. 2, abr. 2002. Disponível em <http://www.datagramazero.org.br/abr02/Art_03.htm>. Acesso em 05 nov. 2007. RODARI, Paola; MERZAGORA, Matteo. Mediadores em museus e centros de ciência: Status, papéis e capacitação. Uma visão geral européia. In: MASSARANI, Luisa, MERZAGORA, Matteo, RODARI, Paola. Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de Ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007. SÁNCHEZ MORA, María del Carmen. Diversos enfoques sobre as visitas guiadas nos museus de ciência. In: MASSARANI, Luisa, MERZAGORA, Matteo, RODARI, Paola. Diálogos & ciência: mediação em museus e centros de Ciência. Rio de Janeiro: Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, 2007.


  • Trabalho em andamento, com possibilidade de ser modificado.
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